Inaugurando nossa sessão de contos e histórias, trazemos a primeira parte de "Manto de Fogo", uma história cheia de magia escrita pela colaboradora Ingrid Boni.
Certamente
não era uma boa época para as bruxas. “Bruxa”, Katherine não
gostava deste nome, lhe parecia algo tão malvado e devasto, nada do
que ela fazia era de todo ruim. Assistia em silêncio uma
desconhecida ser queimada na fogueira enquanto inúmeros outros
desconhecidos gritavam “queimem a bruxa” ou algo estupidamente
parecido. Olhando em seus olhos podia dizer, a mulher que queimavam
certamente não era uma, no máximo era alguém que mexia com algumas
ervas para agradar algum aldeão qualquer. Katherine sorriu com
escárnio, era por isso que iam parar demais na fogueira.
Balançou
a cabeça negativamente e viu outra mulher lhe encarando fixamente,
seus olhos castanhos eram rígidos e escuros, mas Katherine não se
importou, tinha a personalidade forte e exibida, abriu um largo
sorriso para a mulher e virou-se fazendo que seus cabelos loiros e
ondulados voassem. Carregava uma cesta de compras da feira com
algumas frutas, um coelho para o jantar e pães. Gostava de visitar a
cidade e flertar com alguns homens, como gostava de ver as novidades
com alguns feirantes, era muito bonita e quem a conhecia a adorava,
apesar de nunca conseguirem saber nada sobre sua vida.
Katherine
morava dentro da floresta, sozinha, mas sempre dizia que morava com
sua mãe, para assim não ser alvo de olhares estranhos, mais do que
normalmente já era. Vivia uma vida pacata, nunca conhecera seu pai e
aprendera desde pequena com sua mãe os feitiços, as regras e o amor
pela natureza. Tirando em dias que ia à feira dificilmente via
outras pessoas, sobrevivia com o dinheiro que conseguia vendendo
algumas roupas que costurava. Nunca havia conhecido ninguém que a
fizesse ter vontade de formar uma família, mas naquele momento
estava feliz com isso. Depois de preparar algo que pudesse comer e
costurar algumas encomendas o sol já estava se pondo e a jovem se
sentia cansada. Saiu de casa e foi andando pela floresta que já
conhecia muito bem, apenas parou quando chegou em uma lagoa, a água
era clara e fria. Katherine tirou o vestido e o largou em cima de um
galho, para que não molhasse, seu corpo era jovem e firme. Olhou o
próprio reflexo, estava muito parecida com sua mãe e isso lhe
agradava. Mergulhou, gostava de sentir aquela sensação à luz
da lua. Ao voltar à superfície assustou-se, novamente aquele par de
olhos castanhos lhe encaravam, uma mulher pequena e pálida.
– Quem
é você? – Perguntou Katherine.
A
mulher não respondeu, tinha algo em sua mão e seus lábios se
mexiam rapidamente, Katherine demorou a perceber o que a mulher
estava fazendo, até que a mesma jogou algo na água e em
segundos o lago começou a congelar. Katherine arregalou os olhos,
teria um grande problema se não começasse a nadar, sentia seu corpo
gelar cada vez mais. Por sorte conseguiu chegar à borda a tempo
antes que ficasse congelada junto com as águas. A mulher estranha
havia sumido e levado consigo as roupas de Katherine.
– Deve
estar de brincadeira! – Katherine bufou. Escutou o barulho de algo
se mexendo na floresta, se virou e viu um rapaz lhe encarando
surpreso, estava vermelho de vergonha e impressionado com a beleza de
Katherine.
– Você
precisa de ajuda? – Ele gaguejou.
– Não
se preocupe, eu estava nadando e alguém roubou minhas roupas. –
Katherine parecia não se importar de estar nua na frente de um
desconhecido, mesmo que fosse um rapaz. Tratava aquilo com muita
naturalidade.
– O
lago está congelado. – Não havia como o rapaz ficar mais
boquiaberto do que já estava, não entendia nada do que acontecia
ali, em pleno verão e com a temperatura atual era impossível que o
lago estivesse daquela maneira.
– Obrigada
pela observação, mas ele não estava assim segundos atrás. –
Katherine respondeu irritada e começou a andar em direção a sua
casa. O rapaz a seguiu em tropeços.
–
Você
quis dizer que ele se congelou do nada?
– Não,
alguém o congelou. E se eu ver aquela vadia novamente eu vou
congelar o rabo dela.– Katherine mordeu os lábios, sua mãe não
gostaria que falasse daquela maneira. O que estava fazendo?! Falando
demais para um humano e ainda o levando na direção da sua casa. –
Escute, ... – Joffrey.
– Disse ele se concentrando em apenas olhá-la nos olhos.
– Escute,
Joffrey. – Ela sorriu docemente. – Foi muito gentil da sua parte
tentar me ajudar, mas eu não sei o que aconteceu lá, só quero ir
para casa e quero ir sozinha. Obrigada. – Katherine virou-se e o
deixou ali sozinho. Passou o resto da noite pensando quem era aquela
estranha mulher e porque tinha feito aquilo.
A
semana havia passado e não mais sofreu ataques, então voltou a
ficar tranquila, provavelmente a mulher era apenas uma viajante.
Guardou as roupas encomendadas na cesta e saiu andando em direção à
cidade, aquele dia teria muitas entregas, provavelmente levaria boa
parte do dia. Andava no meio de uma rua lotada quando escutou alguém
lhe chamando, suspirou por ter reconhecido a voz. Ao se virar viu o
rapaz da semana passada, olhando á luz do dia era de beleza
razoável, com cabelo muito loiro e olhos pretos.
– Ei.
– Ele a alcançou – Finalmente te encontrei, estava preocupado
que não tivesse chegado em segurança em sua casa.
– Não
precisava se preocupar, Obrigada. – Respondeu gentilmente, mas
também mecanicamente. – Com licença, tenho muitas entregas para
fazer.
– Eu
posso te ajudar. – O rapaz sorriu. – Qual é o seu nome?
– Katherine.
– A jovem voltou a andar, não seria de todo ruim ter uma ajuda que
não atrapalhasse.
– Muito
prazer. Me chamo Joffrey – Mesmo já tendo se apresentado
antes, ele voltou a repetir, para ter certeza que a jovem não se
esquecesse, porque ela realmente tinha esquecido. Pegou a cesta da
mão de Katherine, para que pudesse ajudá-la. Os dois passaram o dia
juntos, conversando, entregando roupas e fazendo novas encomendas. O
sol começava a se pôr quando a última roupa foi entregue e a
última encomenda anotada. Voltaram para a rua central, Katherine
estava sendo muito mais simpática e gentil depois que havia
percebido que Joffrey era um bom rapaz e divertido.
– Quando
vou te ver de novo? – Perguntou ele.
– Bem,
semana que vem eu volto para entregar essas encomendas.
– Só
semana que vem?
Katherine
mordeu os lábios.
– Na
verdade eu tenho que comprar mais tecido, então provavelmente amanhã
venha na cidade de novo.
– Vou
estar esperando. – Joffrey sorriu e se despediu. Os dois se
separaram e Katherine voltou para casa, naquela noite se sentou na
frente da lareira e pensou como seria ter uma família. Aos estalar
os dedos o fogo se intensificou e apagou. Katherine foi dormir
animada para o dia seguinte.
O
dia seguinte chegou e o céu estava nublado, mas isso não impedia
que Katherine continuasse animada para voltar para a cidade e poder
conversar mais com Joffey. Vestiu seu melhor vestido e saiu de sua
humilde, porém confortável, casa. Quando lá chegou, não demorou
para que encontrasse o rapaz, ele estava alegre e sorridente como
sempre demonstrava ser.
– Bom
dia, Kath. – Joffrey vestia roupas leves e bonitas e apesar de não
ter muito certeza, pensava que o jovem não era um plebeu qualquer.
Aparentemente já havia começado suas compras, pois tinha em suas
mãos uma cesta com algumas frutas. Pegou uma maçã e ofereceu para
a jovem.
– Obrigada,
mas não gosto muito de maçãs.
– Que
pena, estão tão bonitas, uma mulher vendeu-as para mim num preço
muito aceitável. – Joffrey comeu a maçã que oferecera.
Katherine
não havia associado qualquer possibilidade até que pouco depois,
Joffrey começou a ficar cansado e pálido, suava frio e sentia aos
poucos seu estômago embrulhar. Preocupada Katherine o levou para sua
casa, coisa que nunca fizera antes, levar um desconhecido para lá. O
deitou em sua cama, com sua experiência já podia afirmar que ele
tinha sido envenenado. Jogou as maçãs no fogo e este ficou verde
por alguns segundos.
– Joffrey,
que mulher lhe vendeu essas maçãs? – O jovem estava ruim demais
para que pudesse responder. Katherine poderia tentar usar sua
magia e curá-lo, mas isso seria arriscado, pois nunca tinha tentado
antes e isso poderia entregar sua identidade. Ela foi até o espaço
reservado para as coisas da cozinha e misturou algumas ervas que
fariam o jovem melhorar, muito lentamente, mas iria, a poção que
havia na maçã não tinha o intuito de matar. – Tome isto. – A
jovem deu o chá para Joffrey e ele tomou com dificuldade. –
Pronto, logo você vai melhorar, você quer que eu avise alguém da
sua família? – perguntou ela, mas ele já havia adormecido.
Enquanto o tempo passava ela fazia suas tarefas que normalmente
estaria fazendo se não houvesse um jovem desmaiado em sua cama.No
meio da tarde escutou um barulho em sua porta e alguém estava
entrando, se escondeu nas sombras e quando viu a mulher pequena e
estranha entrar a primeira coisa que fez foi estender a mão e do
centro desta, um raio vermelho saiu de Katherine e a atingiu fazendo
que a mulher fosse lançada para fora novamente com as roupas em
chamas. Kath saiu de sua casa, a mulher recuperava o fôlego estirada
no chão depois de apagar desesperadamente o fogo.
– O
que você quer comigo? – Perguntou.
A
mulher sem responder pegou um frasco de seu bolso e lançou sobre
Katherine, esta se defendeu com o braço e o mesmo começou a
queimar. Katherine balançou e com raiva fez com que um círculo de
fogo aparecesse em volta da sua adversária.
– Eu
vou matá-la se não me responder.
– Apenas
estou seguindo ordens. – Respondeu assustada.
– De
quem?
Sem
responder, a mulher jogou algo no fogo que o fez desaparecer. E saiu
correndo. Katherine não a impediu.
– Esses
truquezinhos não vão te proteger por muito tempo! – Gritou
Kath e voltou para dentro da casa, Joffrey estava sentado na cama
ainda meio zonzo.
– Que
barulho era aquele? – Perguntou.
– Não
se preocupe, Joffrey, eram apenas crianças fazendo badernas. Volte a
descansar que farei algo para você comer.
Katherine
beijou-lhe a testa, realmente pela primeira vez a ideia de ter uma
família lhe preenchia muito a mente. Mas ainda estava preocupada
sobre quem estaria atrás dela.
Já quero o resto da história!
ResponderExcluirTô adorando! ^^
bjin
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