Katherine bufou enquanto
tentava desembaraçar seu cabelo com as mãos, já estava seguindo para o leste há
uma semana e não tinha encontrado nada que lhe desse um motivo plausível para
estar indo por aquele caminho. Naqueles dias estava dormindo na floresta durante
a noite, não era algo que lhe incomodava muito, mas depois de pegar chuva
por quase quatro horas seguidas o que mais desejava era um banho quente e
uma cama macia. Estava decidida a parar em uma estalagem assim que a
encontrasse. Seu cavalo também parecia cansado, tinham mesmo que parar num
lugar mais digno. Não que aquelas pousadas de estrada fossem muito dignas, mas
já era melhor do que nada.
Escutou o som de alguém se aproximando pela estrada e fez a mesma coisa
que estava fazendo até o momento, apressada saiu do caminho, se escondeu entre
as árvores e esperou o som sumir novamente. Evitava ser vista, não sabia se
alguém tinha a seguido desde sua casa. Continuou em frente mais algumas horas,
viu o pôr-do-sol de cima de seu cavalo e pensou em Joffrey, imaginava o que ele
estaria fazendo naquelas horas, para ela uma semana era o suficiente para que
ele seguisse sua vida, afinal, eles não se conheciam há muito tempo e mesmo que
essa semana não tivesse sido o suficiente para ela esquecê-lo, queria acreditar
que para ele sim, assim se sentiria melhor.
Aos poucos voltou a chover, irritada Katherine
acelerou o trote de seu cavalo, mesmo assim, quando viu luzes de uma estalagem,
já estava completamente encharcada.
Só depois de deixar seu
cavalo no estábulo, abriu a porta da estalagem com mais força do que esperava,
fazendo a bater na parede. O barulho ecoou por todo o lugar, algumas pessoas
que estavam jantando olharam para ela com curiosidade. Corou no mesmo instante,
mas ignorou todos e foi direto pedir um quarto, uma menina mais jovem que ela a
atendeu e fez o que foi pedido. Levou Katherine para um quarto pequeno, meio
sujo, porém já estava com a lareira acessa, o que fazia dali um lugar muito agradável.
– Vai querer jantar agora? – Perguntou a
garota.
– Primeiro
preciso tomar um banho – Respondeu Katherine. A jovem de cabelos ruivos e olhos
castanhos ergueu a sobrancelha para Kath.
– Você tem
dinheiro?
– Claro que tenho. Se
não tivesse eu nem teria vindo aqui. – Katherine bufou. A jovem depois de uns
vinte minutos chamou-a para o banho. Ambas entraram num cômodo pequeno e não
tão sujo quanto o resto do lugar, só havia uma tina de madeira com água morna.
– Primeiro dê o
dinheiro. Da estadia também. – A moça estendeu a mão, Kath apenas suspirou e
lhe deu um pouco a mais do que o dinheiro necessário. A jovem abriu um largo
sorriso simpático. – Obrigada, agora tire suas roupas, vou lavá-las, então
imundas.
Katherine
tirou as roupas e entregou para a menina, depois entrou na tina, a água estava
muito agradável, quando começou a gelar, a jovem voltou com mais uma jarra de
água morna e colocou na tina. Em seguida colocou roupas limpas ao lado.
– Qual o seu
nome? – Perguntou Katherine.
– Miranda e o
seu? – Mesmo sem pedir permissão, Miranda começou a ajudar Kath a lavar os
cabelos.
– Katherine.
Miranda parou por
alguns segundos.
– Você está
vindo da estrada do oeste? – Miranda voltou a desembaraçar os cabelos molhados
da nova conhecida.
– Sim, por quê?
– Katherine não queria falar muito de sua vida.
– Ontem um
homem perguntou se havia alguma Katherine hospedada por aqui.
– Como ele era?
– Katherine virou-se para olhar Miranda nos olhos, não só estava preocupada com
sua segurança, mas também imaginava que poderia ser Antônio.
– Eu não sei,
foi meu pai que falou com ele.
– E seu pai está
por ai?
Miranda balançou a cabeça
negativamente.
– Ele foi na
cidade comprar algumas coisas.
– Entendo, obrigada
mesmo assim. – Katherine sorriu e terminou seu banho com ajuda de Miranda, se
secou com um pano que a mesma trouxe e pegou suas roupas no chão, uma camisa
branca e uma calça marrom. – Aonde pegou isso?
– São do meu
pai, meus vestidos não caberiam em você. – Respondeu Miranda.
Katherine se
vestiu. Não tinham ficado largas ao ponto de ficarem desconfortáveis, mas
estava parecendo um cavalariço de meia-tigela. Foi para a sala de jantar, já
não havia muitas pessoas ali, três ou quatro espalhados pelo salão. Viajantes
estranhos quietos e não querendo problemas, pelo menos assim esperava.
Sentou-se o mais longe de todos e esperou que Miranda trouxesse sua janta,
enquanto esperava um velho encapuzado sentou-se bem do seu lado. Kath apertou
os punhos e continuou a olhar para o nada, será que ela tinha uma placa nas
costas escrita “Viajantes desconhecidos, quero conversar com vocês”?!, o velho
tossiu para que ela prestasse atenção nela.
– O que você quer? –
Perguntou ela irritada.
– Uma jovem viajar
sozinha, arriscado, não?
– Você está
acompanhado? – Katherine sorriu com simpatia, o velho negou meio duvidoso. –
Então não me enche o saco, um velho caído viajando sozinho também não é lá o
desbravador da estrada. – Kath voltou a ficar carrancuda, olhou em direção a
porta da cozinha, queria que sua janta chegasse logo, mesmo que o velho tivesse
ficado em silêncio, ainda estava do seu lado.
– O que procuras? – o
velho voltou a falar.
– Minha janta. – “O que preciso fazer para ter um
tempo de paz?” pensava ela.
– Me refiro a sua
viagem.
Kath fechou os olhos, já que não conseguia se
livrar dele, entraria no jogo, mas do seu jeito.
– Olhe, não tenho
certeza, alguns pequenos objetivos, estou procurando um pote de ouro, um
unicórnio, talvez um marido rico pelo caminho e aquelas coisinhas que voam e
brilham por ai, como se chamam mesmo?! Fadas, eu acho.
O velho riu e
Kath gemeu, não queria que ele levasse na esportiva, queria que ele ficasse
irritado e fosse embora.
– Às vezes não
ter destino pode te levar a coisas perigosas, garota.
Miranda
finalmente trouxe a janta de Kath e na mesma hora começou a comer.
– Você aconselha
todos os viajantes assim ou só os que são bonitos? – Kath riu e babou um pouco
do vinho que estava tomando, voltou a comer como se nada tivesse acontecido.
O velho se
levantou e colocou a mão no ombro de Kath.
– Esse sangue de
fogo ainda lhe causará problemas.
Ele saiu da
estalagem e Kath apenas olhou em silêncio, “sangue de fogo”, já tinha escutado
aquilo em algum lugar, mas não lembrava aonde. Talvez fosse coisa da sua
cabeça. Terminou de comer em paz e foi para seu quarto, ainda estava quentinho,
deitou-se na cama que não era tão confortável quanto a sua e dormiu.
Não teve tempo
nem de sonha, sentiu algo lhe puxar bruscamente, caiu na cama e ainda sonolenta
tentou se livrar de alguém que tentava lhe amarrar. Nem teve tempo de reagir,
escutou um craque e a pessoa caiu no chão. Kath levantou-se e finalmente
conseguiu analisar a cena. O homem que lhe atacara era um desconhecido, mas
tinha o visto jantando no saguão, Miranda tinha o acertado na cabeça com um
vaso de barro.
– Obrigada. – Respondeu.
– Quem é esse cara?
– Ele estava hospedado
aqui. Vamos amarrá-lo no celeiro e esperar ele acordar.
E foi isso que elas
fizeram, o amarram e logo o homem acordou.
– Por que estava me
atacando? – Perguntou Kath.
– Por que acha que eu
te responderia? – Ele sorriu, seu sorriso era podre e sua boca fedia – Nós
vamos te levar de qualquer jeito.
– Nós?
Kath sentiu uma
pancada na cabeça e sua visão embaçou, a última coisa que viu foi ochão vindo
em direção a sua cara, quando abriu os olhos estava amarrada no celeiro e sua
cabeça doía. Ainda esperou um bom tempo até o estranho homem e Miranda
entrassem ali.
– Bem que você tinha
cara de vadiazinha mentirosa mesmo. – Katherine sorriu com escárnio mesmo
estando preocupada. Miranda cuspiu na cara dela e Kath queria não estar
amarrada para ter a socado no mesmo instante.
– Vocês mulheres
sempre mais estressadinhas do que o necessário. – O homem riu – Não se
preocupe, Katherine, não iremos te matar.
– E quem garante
que eu não matarei vocês?
– Tente. – Disse
Miranda.
Katherine não tinha a
intenção de matá-los, mas queria machucá-los para que pudesse fugir. Se
concentrou, porém nada aconteceu, nenhum fogo, nenhum feitiço, nenhum
acontecimento.
– E então? –
Questionou Miranda com um sorriso nos lábios, Katherine não sabia o que dizer e
Miranda apontou para cima, Kath olhou e viu um estranho símbolo desenhado no
teto do celeiro.
– O que é isso? –
Perguntou.
– Um selo para você não nos
atacar. Por isso tivemos o trabalho em te trazer aqui dentro. – Disse
o homem, Kath permaneceu em silêncio. – Sim, nós sabemos o que você é, mas não
se preocupe, não somos caçadores de bruxas.
– Toda hora você
fala para eu não me preocupar, então me diga, por que estou amarrada num
celeiro olhando para a cara feia de vocês dois?
– Isso sim é uma
pergunta interessante. – Disse o homem – Não que eu tenha a obrigação te
responder, é claro, mas como sou bonzinho vou te contar, o seu preço está muito
bom.
– Meu preço?! –
Katherine parou um pouco para que pudesse pensar com mais clareza – Espere,
vocês são caçadores de recompensa?! – Katherine riu – E por que raios alguém
pagaria por mim?
– Isso não nos
importa. – Respondeu Miranda. – O que importa é que você é uma bruxa e os
melhores caçadores já foram avisados do seu preço. Foi muita sorte você ter
entrado bem na estalagem que vigio.
– Muita sorte. –
Concluiu o homem.
Katherine não
respondeu, pensava em como fugiria e em quem teria pago para que ela fosse
presa, com certeza devia ter sido o pai de Joffrey, mas não via muito sentido
naquilo, ela já havia deixado a cidade. Olhou para o símbolo de novo, nem sabia
que coisas daquele tipo existiam, reparou algo estranho, lentamente uma
rachadura estava atravessando o símbolo, a rachadura foi aumentando e
aumentando até que algo atravessou o teto e explodiu no chão, fumaça se
espalhou por todo lado. Seu nariz ardeu na mesma hora e seus olhos
lagrimejaram, mas não poderia perder a chance, balançou a mão amarrada e a
corda começou a pegar fogo. Ela sentiu algo lhe agarrar, ia atacar quando o
rosto daquele velho de mais cedo surgiu entre a fumaça. Kath deixou que ele a
puxasse para fora do celeiro.
– Uma simples
poção para fazer humanos desmaiarem. – Disse o velho e lhe mostrou um frasco
com alguma sobra de poção. Kath começava a se perguntar se ela era a única ali
que não ficava usando poções para cada passo que fosse dar, na verdade, ela mal
sabia muitas “receitas”, só algumas para ajudar curar. Seu cavalo já estava do
lado de fora. O velho a fez subir no cavalo. – Katherine, você nunca
aprendeu a usar nada além do fogo?
Kath o encarou
em silêncio, não entendia muito bem do que ele estava falando, fogo era a única
coisa que sabia e nem havia sido sua mãe que tinha ensinado, havia aprendido
sozinha. Queria perguntar muitas coisas para aquele velho, se soubesse que algo
assim iria acontecer teria sido mais simpática na hora da janta. Miranda saiu
meio zonza de dentro do celeiro, mas estava com uma estranha arma em sua mão, o
velho deu um tapa e o cavalo de Kath começou a correr. Ela olhou para trás e
gritou:
– Eu vou te ver novamente?
Mas não ouve
resposta, não mais consegui enxergar o que acontecia, estava muito escuro.
Continuou a seguir a estrada, pensou em voltar para ajudar o velho quando
escutou som de outro cavalo lhe perseguindo. E quando acelerou o trote, a
pessoa atrás acelerou também. Pensou que a melhor forma de fugir daqui seria
saindo da estrada e entrar na floresta, foi isso que fez e nos primeiros
minutos parecia realmente ter sido uma ótima ideia, mas a floresta foi ficando
mais densa e aos poucos seu cavalo mal conseguia se movimentar, quando pensou
em começar a voltar um galho, na qual não reparou anteriormente, lhe atingiu na
cabeça e ela caiu do cavalo. Sentiu o chão duro lhe machucar e o som do seu
inimigo se aproximou cada vez mais. Sangue escorria de sua testa, ergueu a mão
já preparada para queimar totalmente seu inimigo quando viu cabelos loiros
surgirem, sua visão estava embaçada, mas conseguiu identificar.
– Joffrey?! –
Disse, ele se aproximou dela, estava muito preocupado. Kath estava com muita
dor de cabeça, fechou os olhos e deixou-se adormecer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário